Estuários Texto por Camilla Caricchio
Existem muitas definições de estuários, a depender do ponto de vista e objetivo do estudo. Em termos geológicos, estuário é a terminação de uma vale afogado durante eventos transgressivos, que recebe sedimentos tanto de fontes fluviais quanto marinhas. Porém, do ponto de vista oceanográfico, os estuários foram definidos por Pritchard (1967) como corpos d’água costeiros, semiconfinados, onde ocorre a mistura de água doce, proveniente do continente, com água salgada do oceano. Os estuários são feições efêmeras em escala geológica, por ser um ambiente protegido e, assim, propenso à sedimentação. Dessa forma, apresentam a tendência de serem totalmente acolmatados ao longo de sua evolução, transformando-se em planícies costeiras emersas ou, caso a sedimentação fluvial seja mantida, evoluem para planícies deltaicas. Os estuários atuais, assim, são ambientes recentes, datando de cerca de 5000 anos, época do último máximo transgressivo.
Delimitação funcional de um sistema estuarino
Os estuários estão divididos com relação ao gradiente de salinidade em: zona estuarina fluvial, região mais interna do estuário fortemente relacionada com o aporte fluvial com salinidades menores que 1; a zona estuarina média apresenta salinidades variando de 1 a 35, onde ocorre a intensa mistura entre as águas salgadas e doces; e a zona estuarina costeira ou desembocadura onde a forçante marinha (marés, ondas e correntes) predomina. A circulação no interior o estuário é determinada por essas forçantes marinhas e fluviais, além de pelo tamanho e forma da bacia. |
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Esquema geomorfológico de um estuário. Fonte: Miranda, Castro & Kjerfve, 2002
Classificação de Estuários
Quanto à classificação os estuários podem ser divididos quanto ao domínio por ondas ou por marés. Estuários dominados por ondas apresentam caracteristicamente um pontal arenoso transversal à desembocadura e uma energia baixa na porção média, onde há a tendência ao acúmulo de lama. Por sua vez, estuários dominados por marés têm barras arenosas longitudinais ao fluxo fluvial e canais meandrantes na porção intermediária. |
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Estuário característico de domínio por ondas. Fonte: Notas de aula de Dominguez, 2009. |
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Típico estuário dominado por maré. Fonte: Notas de aula de Dominguez, 2009. |
A alta reatividade geoquímica proveniente da mistura de águas marinhas e fluviais e da variação de salinidade, que propicia condições ideais para ocorrência dos processos físicos e químicos (precipitação,adsorção e complexação), os estuários são potenciais trapeadores do material particulado em suspensão nos sedimentos estuarinos, o que leva a uma alta produtividade primária em relação às águas fluviais e marinhas adjacentes.
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Apesar da alta produtividade, os ambientes estuarinos apresentam níveis de diversidade baixos devido ao stress causado pelas grandes variações de salinidade durante os eventos de maré, poucas espécies estão adaptadas a viver em tais condições.Existe uma clara zonação nas regiões estuarinas devido ao forte gradiente de salinidade, as espécies dulcícolas diminuem com o aumento da salinidade e as espécies marinhas se tornam mais dominantes, na região de mistura intensa existe uma diminuição do número de espécies, pois somente “espécies estuarinas”, que suportam grandes variações de salinidade, colonizam este habitat. Estuários por estarem intimamente relacionados com os manguezais e marismas têm um importante papel ecológico, |
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Zonação em estuários de acordo com o gradiente de salinidade. Adaptado de Kaiser, 2005. |
como abrigo e crescimento de juvenis de espécies de diversos ambientes; e comercial como fonte de mariscos e peixes para alimentação humana.
Apesar da grande importância ecológica e comercial desse ambiente o homem vem, ao longo do tempo, degradando-o cada vez mais. Cerca de 60% da população mundial reside em regiões estuarinas, o alto grau de urbanização e industrialização traz diversos efeitos negativos. Dentre os principais impactos e suas conseqüências que o homem causa nesse ambiente destacam-se:
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Descargas de efluentes domésticos à eutrofização;
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Despejos industriais à contaminação por metais;
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Pesticidas à contaminação por substancias tóxicas;
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Construções de barragens à diminuição do aporte fluvial, aumento da salinidade, concentração de poluentes no estuário, perda de habitats;
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Desmatamento à assoreamento de canais e perda de habitats;
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Efluentes térmicos à perda da diversidade;
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Urbanização à perda de habitats.
Dentre as conseqüências, a mais grave é a perda de habitats que influencia negativamente toda a comunidade marinha, causando perdas para todo o sistema já que regiões estuarinas são berçários para espécies de outros ecossistemas.
Referências Bibliográficas
Neto et al. Introdução à Geologia Marinha. Ed Interciência, Rio de Janeiro, 2004.
SCHUBEL, J. R.; HAYES, M. O.; PRITCHARD, D. W. The estuarine environment: estuaries and estuariane sedimentation. Washington: American Geological Institute, 1974.
Kaiser, M.J. et al. Marine Ecology: processes, systems and impacts. Oxford University Press, 557p: 2005.