Suprimento de Sedimentos Texto por Raissa Campos
O suprimento de sedimentos é um dos principais fatores que controlam a morfologia da zona costeira, sendo controlado principalmente pelo tamanho da bacia hidrografia e relevo no interior das bacias.
A Costa Norte do Brasil recebe o maior aporte de sedimentos, devido à descarga do Rio Amazonas, Tocantins e Parnaíba. A costa Nordeste é considerada faminta devido ao fato de as bacias hidrográficas serem pequenas e de baixo relevo, somado à baixa precipitação na região. A costa Leste possui grandes bacias hidrográficas, recebendo descargas consideráveis de sedimentos. A costa Sudeste, devido à presença de serras, possui a maior parte dos rios sendo drenados para o interior do continente, e assim não recebe descargas significativas. A costa ao Sul é alimentada pelo sistema Paraná-Prata.
A Zona Costeira Brasileira foi dividida por Dominguez em seis tipologias básicas, que ilustram a interação dos vários dos processos citados e da herança geológica, sendo elas:
1. A Costa Arenosa com Alimentação Longitudinal do Rio Grande do Sul.
Possui a planície arenosa mais ampla da costa brasileira, formada por uma série de acumulações arenosas alongadas denominadas sistema de barreiras, cujo sedimento é oriundo da descarga da bacia do Prata transportado para norte em situações de nível de mar mais baixo. Essas barreiras são separadas por sistemas de terras úmidas e lagunas, associadas a quatro diferentes níveis de mar alto dos últimos 420 mil anos.
2. A Costa Montanhosa do Sudeste do Brasil
Trecho caracterizado pela presença de montanhas, com altitudes elevadas de até 1000m muito próximo da linha de costa por conta de um soerguimento ocorrido a partir do Cenozóico. A principal conseqüência é a drenagem fluvial para o interior do continente, e durante eventos de nível de mar alto no Quaternário ocorreu a formação de numerosas ilhas e baías, como é o caso da baía de Guanabara.
3. A Costa Deltáica Dominada por Ondas do Leste do Brasil
As grandes bacias hidrográficas, como do Rio São Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul, e o alto relevo, combinados, resultaram em altas descargas de sedimentos na desembocadura dos rios que compõem essa região, levando ao desenvolvimento de deltas dominados por ondas.
4. A Costa Faminta do Nordeste do Brasil
Devido à ausência de grandes bacias hidrográficas, ao baixo relevo e clima semi-árido, a porção nordeste da costa brasileira é considerada “faminta” de sedimentos, apresentando tendência a longo prazo de recuo da linha de costa e apresentando diversas ocorrências de arenitos de praia e falésias inseridas na Formação Barreiras. Há também a ocorrência de estuários não preenchidos e recifes de coral, devido ao baixo aporte de sedimentos e disponibilidade de substrato rochoso para fixação dos mesmos.
5. As Costas de Riftes Mesozóicos
A maior parte da porção mesozóica (fase rift) das bacias marginais brasileiras se encontram soterradas sob sedimentos mais novos, aflorando em poucas localidades. Uma exceção é da zona costeira entre Itacaré e Salvador – BA, onde o rifte mesozóico acompanha o traçado da linha de costa, influenciando sua topografia. A erosão diferencial das rochas sedimentares (mais frágeis) em relação ao embasamento cristalino criou falhas que foram invadidos durante as subidas do nível do mar no Quaternário, resultando no aparecimento de alguma das maiores baías do Brasil – Camamu-Recôncavo. Outro exemplo é o da bacia Potiguar – RN, em que dois dos maiores estuários do Brasil ocorrem em blocos falhados do rifte da bacia.
6. O Embaiamento de Marés do Amazonas.
A linha de costa da região amazônica é interceptada pelas bacias sedimentares intracratônicas mesozóico-paleozóicas do Amazonas e Parnaíba. A rede hidrográfica sobre essa bacia drena mais de metade do território brasileiro, incluindo o maior rio do mundo – Amazonas, e também o Tocantins e Parnaíba, constituindo a região de maior aporte de sedimento da América do Sul. Além disso, essa é uma zona de influência de macromarés, com as marés mais altas do Brasil. As planícies arenosas são praticamente ausentes. Há dois estilos de sedimentação contrastando à leste (barlamar) e oeste(sotamar) do Rio Amazonas: O setor leste possui estuários estreitos escavados na Formação Barreiras, a qual em alguns locais intercepta a linha de costa. Os manguezais progradam sobre as areias litorâneas e a costa exibe inúmeras reentrâncias. Na porção oeste o estilo de sedimentação é completamente diferente devido ao transporte litorâneo predominantemente para oeste, sendo caracterizada por uma linha de costa lamosa, formando um cabo lamoso e ausência de reentrâncias.
Referências Bibliográficas
Dominguez, J. M. L. Notas de aula de Processos Sedimentares e Problemas Ambientais na Zona Costeira. Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, 2009.